Dia das mães em 2020
Dia das mães em 2020
Por Ednéa Ornella
A Covid-19 fará com que o dia das mães seja comemorado com portas fechadas. Não haverá almoços em restaurantes nem ruas cheias de filhos carregando pacotes embrulhados em papeis coloridos ou flores arranjadas em lindos buquês. Em 2020, haverá um amoroso afastamento, contornado por conversas telefônicas e comunicações em redes sociais. Alguns filhos sentirão falta do cheiro de mãe e lamentarão o descaso do abraço dado em anos anteriores.
No dia das mães de 2020 se revive a experiência do antigo Israel, quando Deus mandou Moisés ordenar ao povo: “Nenhum de vós saia da porta da sua casa até pela manhã.” (Ex 12,22). O “amanhã” de 2020 será o final do tempo necessário para que cada um viva e permita ao próximo viver. Fique em casa! Viva o isolamento com fé e esperança no futuro.
A pandemia provocará muitas mortes, agravadas por mazelas que governos prometem erradicar, mas permanecem: pobreza, desemprego, moradias precárias e falta de saneamento básico. Deus interpela o ser humano e aguarda uma resposta humana. “Eu vim para que tenham vida, e vida em abundância.” (Jo 10,10). Na resposta não podem faltar verdade, justiça e paz.
A Covid-19 nos obriga a celebrar o dia das mães com movimentos de solidariedade, semelhantes aos que deram origem à data. Anna Maria Reeves Jarvis socorria soldados dos dois lados da Guerra Civil Americana, fornecendo alimentos e auxiliando no tratamento de doenças. Posteriormente, Jarvis organizou instituições solidárias chamadas de “Clube do trabalho diurno das mães”, cujos nomes, coincidentemente, exibiam a expressão “das mães”. As instituições tinham o objetivo de melhorar as condições sanitárias em que viviam as crianças pobres, afetadas por doenças como febre tifoide e cólera. Em 1872, Jarvis criou o “Dia da amizade das mães”, unindo mães e veteranos de ambos os lados da guerra para celebrar a paz. Estas festas não celebravam as mães, eram mães que se uniam para celebrar alguma coisa.
Com a morte de Jarvis,em 1905, sua filha Anna entrou em depressão e, para ajudá-la, algumas amigas organizaram uma festa em memória de Jarvis. Anna estendeu a festa a todas as mães, vivas ou mortas, com a ideia de que a celebração fortalecesse os laços familiares e o respeito pelos pais. Na primeira missa das mães, Anna enviou para a Igreja de Grafton 500 cravos brancos, oferecidos a todos, sendo dois cravos para as mães. Para Anna a brancura do cravo simbolizava pureza, fidelidade, amor, caridade e beleza. Este gesto se repetiu por anos. O cravo branco passou, então, a simbolizar a maternidade. Comerciantes passaram a vender cravos brancos no dia das mães. A popularidade da festa tornou-a uma atividade lucrativa o que desagradou Anna.
Assim, Anna se afastou do movimento e iniciou um protesto contra a comercialização do dia das mães, o que levou à sua prisão. Em sua revolta, falou: “Um cartão impresso não significa nada mais que você é muito preguiçoso para escrever para a mulher que fez mais por você que qualquer outra pessoa no mundo. E tortas! Você leva uma caixa para a Mãe – e então come tudo você mesmo. Um belo sentimento!”
Anna morreu pobre, em 1948, aos 84 anos, e nunca chegou a ser mãe. A história de Anna e de sua mãe é a história de “Eva”, “ser vivente” (Gn 3,20 – חַוָּה), “doadora de vida ao próximo”, história de mulheres cujos corpos apresentam, em seus fluxos menstruais e seios, sinais de que se importam com tudo que se refere à urgência da vida e às dores e sofrimentos humanos.
No Brasil, onde muitas “mães” como Jarvis e sua filha, se unem para celebrar a vida com ações de solidariedade, que se celebre, em 2020, mães que geraram filhos e mães que, através do amor, geram vida, com “pureza, fidelidade, amor, caridade e beleza”. Celebre-se em 2020 as mulheres sensíveis à dor e ao sofrimento alheios, celebre-se as mulheres que abraçam a vida com urgência, pois sem a vida não há a Economia.