Crônica – Experiência como secretária


Crônica – Experiência como secretária

Foi assim mesmo que aconteceu.

À noite, Mariana Miranda, gerente do INFA- Tijuca, me telefonou pedindo ajuda. O secretário faria uma cirurgia dentária na manhã seguinte e não havia quem o substituísse,  já que a secretária do período da tarde teria uma prova na UERJ.

Pronto! me dispus a secretariar, afinal não poderia ser um bicho de sete cabeças. No dia, portando um livro e o jornal, achando que talvez eu tivesse tempo livre me dirigi ao local. Ao primeiro toque da campainha do portão, fiz o óbvio: apertei o botão, que…tam  tam tam tam, não abriu. Como assim? já fiz isso antes. Felizmente, uma das profissionais tinha a chave e veio em meu auxílio. Pouco tempo depois, ouço pelo interfone a voz de um senhor me pedindo para usar o toalete. Que estranho, pensei. Fui ao portão e lhe expliquei que o local era para uso exclusivo dos clientes. Como eu fosse substituta e não soubesse as regras da casa, não poderia abrir exceção.

Antes que eu pudesse desfrutar do meu livro, um motorista do ônibus que faz ponto em frente ao nosso portão, pelo interfone, me pediu permissão para encher um galão d´agua para pôr no motor. Como a mangueira fosse fora do prédio, não me furtei à permissão.

Nesse ínterim, o fone do gancho do interfone se recusava a encaixar no aparelho, parecia que havia óleo e por mais que eu tentasse nada. Meu Deus, o que é isso, Lei de Murphy?

Você pensa que acabou? Que nada: o baleiro tocou a campainha pra pedir um copo de plástico vazio. Aff!. Por último, apareceu uma senhora à procura de informações sobre os serviços prestados pelo INFA. Por ter sofrido um trauma, sua filha estava deprimida e ela temia que a moça se suicidasse. Quem é mãe sabe o quanto dói a dor de um filho. O mínimo que eu podia fazer era ouvi-la e lhe transmitir calma e compaixão até que, instintivamente, me levantei e a abracei. Tomei nota de seus dados e pedi que ela voltasse em outra ocasião para tentar com o serviço social marcar consulta com um psicólogo. Ao se despedir, enxugando as lágrimas a senhora disse: “Que bom eu ter vindo, eu precisava tanto desse abraço”

Detalhe, quando a secretária da tarde ouviu meu relato sobre os diversos imprevistos pelos quais eu havia passado, surpresa exclamou: ”Nossa, NUNCA aconteceu isso antes!”

Começo a achar que fui submetida a um “test drive”.

Lenyr Mesquita de Barros